Ainda um guri com 11 ou 12 anos tive o meu primeiro contato com a obra de Alan Moore através de uns números perdidos de Watchmen e com alguns gibis formatinho do Monstro do Pântano, ambos publicado pela Abril.
Obviamente pela idade não tinha como ir muito além de uma leitura bem rasa, mas lembro de já ter ficado impressionado com Watchmen. Já Monstro do Pântano não despertou tanto interesse, me fazendo ficar com a impressão quando mais velho de que ele fosse um trabalho “menor” do barbudão inglês.
Caras, eu não podia estar mais enganado!
A Panini está republicando aqui no Brasil desde o ano passado (foram lançado três encadernados até agora) a fase de Moore frente ao título do Alfação, me dando a chance de de ler esse material em sequência e já com horas de leituras na “carcunda”suficientes para poder aprecia-lo em quase sua totalidade. Digo quase porque sou meio burro porque apesar de ter sido publicada em um título mensal regular nos anos 80 e se passar dentro da continuidade normal do universo DC à época, Moore consegue fazer uma trama complexa, com várias camadas, adulta e atemporal digna de graphics novels e séries que alguns anos depois seriam publicadas sob o selo da Vertigo, que aliás tem suas primeiras sementes plantadas durante essa fase Monstro do Pântano.
Moore já declarou em entrevistas que muito do que vem sendo publicado hoje são conceitos desenvolvidos por ele no passado. Usa até uma figura de imagem de que as grandes editoras não passam de” guaxinins revirando seu lixo” em busca de algo que possam re-aproveitar. Apesar de soar um tanto pretensioso, em Monstro do Pântano vemos como o escritor lá no distante 1984 conseguiu estabelecer conceitos que reverberam até hoje nos quadrinhos.
Foi ele Moore que estabeleceu que o protagonista não era mais o cientista Alec Holland transformado em um monstro por conta de uma explosão e contato com compostos químicos e o pântano, mas sim uma parte da vegetação que criou vida a partir da consciência do moribundo cientista. Explorando o dilema do protagonista ao descobrir a verdade, o autor enfileira um monte de idéias que ajudaram a definir o chamado “quadrinho para leitores maduros” e que até hoje estão por aí.
Além da genialidade do escritor ainda temos os desenhistas Stephen Bissette, John Totleben, Dan Day , Alfredo Alcala e Rich Veich e a colorista Tatjana Wood fazendo um trabalho excelente na arte mesclando os quadrinhos clássicos de terror com experimentalismo gráficos sensacionais até para os dias atuais. Havia muito tempo que não lia algo que me causasse tanto impacto, devorei os dois volumes num tapa só e já estou começando o terceiro, torcendo para que a Panini publique a fase de Moore integralmente aqui.
Vi algumas reclamações sobre o formato da publicação por ela não ter uma capa e um papel melhor. Realmente não está à altura da qualidade da história e sua importância , mas pelo que eu ouvi no Comicpod é o mesmo formato utilizado lá nos EUA. E até tem seu charme já que remete um pouco àquele papelzão-jornal vagabundo utilizado nas revistas de terror do passado.
Sempre evito usar o termo “é obrigatório”, mas o fato é que “A Saga do Monstro do Pântano” realmente o é para qualquer um que goste de quadrinhos e que queira entender a verdadeira força criativa e inovadora que essa mídia pode ter quando cai não mão de um gênio como “O Artista Original”.
Nota: 10 tubérculos psicodélicos-orgasmáticos
De 10 tubérculos psicodélicos disponíveis.