Um Conto de UATÁFOKIN: Trinta- Parte I

Seguindo a mudança editorial (risos) anunciada no post anterior, vou publicar esse conto aqui que escrevi para um projeto do que seria um livro de contos coletivos que acabou não indo para frente*.

Divirta-se. Ou não…


Aconteceu há dois anos quando eu havia acabado de fazer aniversário. Retornava para casa após mais um dia na minha rotina de trabalho como gerente-trainee-adjunto de novos projetos, cargo que no período que exerci nunca entendi qual era a real função prática, além da realização de uma série de reuniões que não levavam a nada.

you_exist_but_do_you_live__by_jeffreyverity

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Reparei pela janela durante o percurso no tubos-coletivo que algumas aero-patrulhas da Agência de Controle de Danos em Super-Eventos (ACDS) planavam calmamente ao redor. Isto era pouco usual já que elas costumavam estar sempre cruzando o céu à toda velocidade em direção algum quebra-pau entre seres superpoderosos.

Não dei muita importância na hora, estava imerso no total tédio que era minha vida profissional e pessoal. Só comecei a ficar mais intrigado quanto percebi que as aero-patrulhas continuavam à espreita, quase como se tivessem me escoltando até meu apartamento. Lembro de ter pensado na hora “Porra, mal acabei de fazer trinta e já me tornei paranóico!” E nesse exato momento um furgão da ACDS surgiu na minha frente do nada, jogando seus holofotes na minha cara.

 

Petrificado, vi vários agentes descendo dele e me apontando suas armas. Enquanto ainda tentava assimilar o que estava acontecendo, o último deles desceu com algo parecido com uma bazuca e disparou um raio de energia contra mim. Senti meu corpo incendiar e urrei de dor por alguns minutos me debatendo no chão. Parecia o fim, mas de repente toda dor passou. Ainda no chão e cego por conta da luminosidade só consegui ouvir alguém dizendo “É ele. Liguem o desruptor”.

 

Ouvi um zumbido e apaguei

 

Quando retomei a consciência estava em uma cama já dentro de uma instalação secreta do governo cercado por uma série de senhores engravatados. Tentando parecer calmo, mas visivelmente nervoso, o mais grisalho deles me pediu desculpas justificando o ocorrido com aquele blá-blá-blá sobre segurança nacional para em seguida me fazer uma série de perguntas:

 

Sim, eu sabia que era adotado.

 

Não, nunca tive interesse em saber quem eram meus pais biológicos, os adotivos já fizeram um péssimo trabalho, o que dizer daqueles que me abandonaram?

 

Não, nunca manifestei nenhuma espécie de habilidade especial a não ser o dia que consegui acertar o número exatos de azeitonas dentro de um jarro no pub onde costumava beber, mas não acho que isso deva contar.

 

Sim, claro que eu conhecia o Capitão Solar! Mesmo não dando a mínima para esses super-caras, não havia como não conhecer o maior deles. Ele era um ícone, vinha combatendo crime há quase cinquenta anos, foi líder de várias encarnações do Esquadrão da Justiça, além de estar em uns 60% de todas as campanhas publicitárias exibidas nas últimas décadas.

 

Só que segundo o engravatado grisalho eu não o conhecia para valer. Ele me disse para esquecer todas aquelas baboseiras sobre ele ter sido um físico que devido a um experimento malsucedido ganhou super-força e decidiu lutar pela liberdade e justiça. Capitão Solar, assim como todos autoproclamados super-heróis, vinham há décadas sendo fabricados pelo governo.

A maioria nem tinha poderes de verdade, usavam apenas aparatos tecnológicos e ganhavam uma caprichada edição de vídeo cheia de efeitos especiais para que seus atos serem veiculados nos canais de holo-streaming.

 

Excluindo os alienígenas, robôs e visitantes de outras dimensões o único ser humano normal que tinha poderes de verdade era o Capitão Solar. Entre milhares de cobaias, só ele resistiu a todos os experimentos quando uma proto-ACDS começou seu programa de desenvolvimento de super-humanos. Foi único a não morrer ou ficar insano no processo.

Quer dizer: ficar completamente insano, pois ao contrário do exemplo de retidão e honradez que a mídia insistia em mostrar, ele era desequilibrado e amoral.

 

Alguma das invasões extraterrestres ou ataque de super-vilões com dezenas de fatalidades divulgados pela imprensa ao longo dos anos, não passavam de noitadas extremas do Capitão na cidade. Além de causarem muitas mortes, essas escapadas costumavam resultar em orgias épicas e esse era o motivo da ACDS permitir que elas vez ou outra acontecessem. A agência nunca conseguiu isolar o fator que permitiu que o Capitão desenvolvesse seus poderes e já que a clonagem e a fertilização in vitro também haviam falhado, por que não permitir que ele espalhasse a sua semente por aí na esperança que uma delas desse frutos, certo?

 

Pois bem, eu era um desses frutos e o primeiro a ser colhido.


 

Parte dois será publicada em breve coloco o link aqui quando ocorrer.

*O projeto não foi para frente, mas os escritores envolvidos acabaram publicando trabalhos individuais e saíram coisas muito boas:

Jornada: Estrada para Hopefall “ de Matheus Forny

“Colônia Humana:Contos”  de Daniel Cúrio

“Uivo de Todos os Lobos”  de Wes Lourenço

“100 Contos Curtos: Fantástico, de Terror, de Ficção Científica, Fantasia e Outros Gêneros”  e Unigênito  da Sil

“A Herdeira dos Sonhos-A Rainha do Forte ”  de Gabriel Sansigolo

Fanfics da Marvel   Tumblr  com ilustrações de Josemi Bezerra

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